Roberto de Mattei no Brasil e o fim do tabu sobre o Vaticano II.
Apresentamos a seguir algumas anotações das conferências proferidas pelo Professor Roberto de Mattei em sua jornada por algumas capitais brasileiras.
ALGUNS TÓPICOS DAS CONFERÊNCIAS
“Os documentos não são tudo!”
“E hoje ainda não saímos da Revolução Francesa. Diria ainda mais: me parece que a essência do Vaticano II está precisamente na tentativa de conciliar a Igreja com o mundo moderno nascido na Revolução Francesa, o mundo que a Igreja sempre havia combatido e que hoje deixou de combater. A herança mais pesada que o Concílio nos deixou é, na minha opinião, a perda do espírito militante na Igreja.”
“A Tradição não é apenas a regra fidei da Igreja; é também o fundamento da sociedade. É o critério de juízo sobre a História dessa mesma sociedade.”
“Não se pode sujeitar a verdade divina e imutável aos fatos ou aos eventos, por mais avassaladores e epocais que estes sejam. É a verdade que deve julgar os fatos e a História. A História, por seu lado, serve para nos recordar que o que aconteceu ontem pode se repetir hoje. Que ontem, como hoje e amanhã, nos tempos de crises e dificuldades há sempre uma, e só uma, regra da fé. O critério para discernir o que é católico e o que não é: a fidelidade à Tradição, que é a fidelidade às verdades entregues por Cristo à sua Igreja com essas palavras: ‘O Céu e a Terra passarão, as minhas palavras não passarão’”.
PERGUNTAS E RESPOSTAS
Reforma Litúrgica de 1969
“Eu não vejo bem como se pode aplicar o conceito de hermenêutica da continuidade tendo em vista que a reforma litúrgica foi uma descontinuidade com a tradição litúrgica da Igreja.”
“A essência histórica do Concílio Vaticano II é uma essência revolucionária.”
Sobre a Hermenêutica da Continuidade
“Queria chamar a atenção para o último discurso que o papa Bento XVI fez no dia 14 de fevereiro, alguns dias depois da sua renúncia ao clero romano. Esse discurso é a confissão do fracasso da hermenêutica da continuidade. Nesse discurso Bento XVI admite a crise na Igreja, mas afirma que a causa é a substituição de um Concílio real pelo Concílio virtual (da mídia). O concílio virtual teria ganhado. O problema é que o Concílio virtual é uma realidade tão real quanto o Concílio propriamente com união dos bispos. E isso Sua Santidade parece não reconhecer. Penso que uma das causas da sua renúncia é esse fracasso da hermenêutica da continuidade, portanto, uma consequência desse fracasso.”
“Não me interesso pela questão hermenêutica [de continuidade ou ruptura]; interesso-me pela ‘hermenêutica dos fatos’. Não sigo a hermenêutica da continuidade e não creio que o Papa Francisco a siga”.
Sobre o Papa Francisco
“O Papa Francisco está envolto por uma aura de mistério e o primeiro mistério é a renúncia do papa Bento XVI; o segundo mistério é o que aconteceu dentro do Conclave. Tem-se um pouco a impressão que aconteceu algo de misterioso no Conclave.”
“O problema não é ele não ser romano [de nascimento], mas não ter o espírito romano. O Papa Bento XVI não seguia a escola romana [de teologia], era de outra escola. Questiono, sem ironia, a que escola o Papa Francisco pertence, se é que ele pertence a alguma.”.
Sobre a reforma da cúria
“A reforma de Francisco é diferente da de Paulo VI. Paulo VI substituía conservadores por progressistas. Francisco não quer nem conservadores nem progressistas”.
Sobre os frutos positivos do Vaticano II
“Não me parece interessante saber se há elementos positivos ou negativos no Concílio, porque como o juízo sobre o Concilio é globalmente negativo, se houver elementos positivos, isso o torna mais perigoso. Ressalvo que este se trata de um juízo histórico e global sobre o Concílio.”
Sobre o documento Sacrossantum Concilium
“Esse documento já abre uma brecha, porque confere às Conferencias Episcopais e, em alguns casos, a possibilidade de mudar a língua latina pelo vernáculo. O que aconteceu depois foi certamente muito além do que está no documento, mas penso que as ideias têm uma lógica férrea e já a Sacrossantum Concilium contém alguns efeitos que veríamos depois. Do ponto de vista teológico, o momento de descontinuidade é a promulgação do documento Missale Romano, em 1969, introduzindo completamente a Missa Nova, mas do ponto de vista histórico e psicológico, o momento de ruptura ocorre anos 1965 e 1966, quando, em alguns países, como a Itália, se introduz a missa ordinária em vernáculo.”
A caixa de comentários está aberta aos leitores que desejem acrescentar outras notas sobre aspectos marcantes das conferências.
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CONFERÊNCIA NO RIO DE JANEIRO:
Os organizadores estimam que a última conferência, na cidade de São Paulo, contou coma presença de 500 pessoas, contando inclusive com a participação de diversos clérigos devidamente identificados. Roberto de Mattei destacou a sua surpresa e contentamento pela juventude católica bem formada e pujante que encontrou no Brasil.
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