A Igreja é, desde sempre, sujeita a reformas. Imutável na sua essência, que é o Cristo, a Igreja procura sempre a melhor forma de continuar sua missão e comunicar a salvação aos homens de seu tempo.
Em termos de liturgia, a última grande reforma ocorreu no Concílio Vaticano II (1962-1965).
Todo o Concílio Vaticano II foi motivado pela necessidade de atualização da forma de evangelizar frente aos tempos modernos. Por isso foi chamado de Concílio Pastoral, e não Dogmático, como foram os anteriores. O Vaticano II não formulou nenhum novo dogma, mas propôs ações e reformas em vista de uma melhor adaptação da Igreja ao novo cenário mundial.
No campo da liturgia, o Concílio propôs através da Constituição Sacrosanctum Concilium, os seguintes princípios: os fiéis devem participar plena, consciente e ativamente das celebrações litúrgicas.
Nem tudo acontece como previsto ou pedido no papel. O Concílio sofreu de uma má aplicação, não só na liturgia, mas principalmente neste campo. O principal motivo apontado é um falso conceito de liberdade e a ignorância. Formou-se uma mentalidade de que a adaptação é mais importante que a norma, chegando a suprimi-la.
A relativização da norma faz com que ela perca seu sentido, que é manter a unidade da Igreja e garantir o direito de todo fiel à liturgia. Assim se expressou a esse respeito o Santo Padre, Papa Bento XVI:
"O primeiro modo de favorecer a participação do povo de Deus no rito sagrado é a condigna celebração do mesmo; a arte da celebração é a melhor condição para a participação ativa. Aquela resulta da fiel obediência às normas litúrgicas na sua integridade, pois é precisamente este modo de celebrar que, há dois mil anos, garante a vida de fé de todos os crentes, chamados a viver a celebração enquanto povo de Deus, sacerdócio real, nação santa (cf. 1 Pd 2,4-5.9)".
Um dos pontos fortes do pontificado do Papa Bento XVI é promover o que vem sendo chamado de "reforma da reforma": retomar o caminho do Concílio Vaticano II e purificar a Igreja e a liturgia das interpretações equivocadas. Esse trabalho já desempenhava antes de chegar ao trono de Pedro, quando ainda era Cardeal Ratzinger: no livro Introdução ao espírito da liturgia, expressou o desejo de que na Igreja aconteça um novo movimento litúrgico, que, de fato, vem tomando forma nos últimos anos.
Bento XVI tem provocado esse novo movimento litúrgico e realizando a reforma da reforma não a toque de decretos, como poderia fazer, mas através do trabalho prudente e do exemplo. Aliás, trabalho prudente foi um dos aspectos pedidos pela Constituição Sacrosanctum Concilium, negligenciado na prática.
O Papa tem ensinado pelo exemplo, com seu modo reverente e piedoso de celebrar, mostrando a centralidade de Deus no culto e resgatando sinais litúrgicos da grande tradição da Igreja. Tudo isso vindo do Papa provoca admiração e coragem em muitos bispos e padres, e fascina muitos jovens, a quem ele confia o futuro da Igreja.
A mudança, a reforma, não acontece da noite para o dia. Celebrando os cinquenta anos do Concílio, não o vimos plenamente aplicado. Não será também tão rápida a correção dos abusos e a criação de uma nova mentalidade litúrgica.
Por João Paulo Parra, missionário da Comunidade Deus Proverámudança
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